Sunday, July 6, 2008

Espanha campeã da Euro-2008

por Tiago Leme, de Viena (AUT)

Foi bom para o futebol que a Espanha tenha conquistado o título da Eurocopa-2008. Bom porque a taça não foi para um dos grandes de sempre, e sim para uma equipe que apresentou características ofensivas na maioria dos jogos.

Na final, disputada no dia 29 de junho no estádio Ernst-Happel, em Viena, os espanhóis mostraram mais uma vez que mereciam ser campeões. Apesar do placar magro de 1 a 0 e de o duelo não ter tido grande emoções, a Espanha foi superior à Alemanha e conquistou o bicampeonato europeu. O gol do atacante Fernando Torres, que até então não havia brilhado no torneio, mas mostrou que é craque no momento decisivo, deu a vitória à Fúria.

É difícil apontar o melhor jogador da seleção comandada pelo ótimo técnico Luis Aragonés. Torres e Villa fizeram a sua parte lá na frente, o goleiro Casillas mostrou segurança nas poucas vezes que foi exigido, o volante Xavi foi eleito o melhor da competição pela Uefa e o brasileiro Marcos Senna foi o mais regular e quase perfeito durante o mês de junho. Talvez se tivesse marcado pelo menos um golzinho (quase fez na final) e não fosse naturalizado (sim, existe certo preconceito), Senna poderia ter sido apontado como o craque da Euro. Mas o ponto forte do campeão foi mesmo o jovem e talentoso conjunto, que provou que Aragonés teve razão ao deixar de fora atletas experientes como a estrela Raul.

O título ficou em boas mãos, como também teria ficado se tivesse sido conquistado por Holanda ou Portugal. No entanto, esses times não tiveram a competência da Espanha. Ao contrário do que aconteceu em 2004, o vencedor de 2008 pode ser um espelho positivo para a Europa e para o mundo. Há quatro anos, em Portugal, a surpreendente Grécia triunfou com atuações defensivas e burocáticas. Tanto que nem sequer classificou-se para a Copa do Mundo seguinte e sofreu três derrotas na primeira fase no torneio da Áustria/Suíça, quando defendia o título. Pelo que apresentou agora, a seleção espanhola tem tudo para voar ainda mais alto nos próximos anos.

Foto: Espanha vence a Alemanha na final, por 1 a 0, no estádio Ernst-Happel, em Viena, na Áustria

Thursday, June 26, 2008

Super Deutschland x La Furia

por Tiago Leme, de Viena (AUT)

Uma final entre dois times grandes ou entre um grande e um pequeno? Alemanha, tricampeã mundial, e Espanha, que tem tradição, mas busca um título importante, decidirão a Euro-2008, no próximo domingo, em Viena, na Áustria.

Mostrando eficiência nos momentos decisivos e com alguns jogadores diferenciados, os finalistas fizeram por merecer a classificação e agora duelarão para ver quem é o melhor da Europa. O melhor da Europa? O sistema de disputa talvez não premie a equipe que joga o melhor futebol, mas, sim, a mais competente. Portanto, o melhor da Europa.

Depois de ser derrotada pela Croácia na primeira fase e avançar como a segunda colocada do Grupo B, a Alemanha cresceu. Mostrou força ao superar o favorito Portugal, nas quartas (jogando melhor que o adversário), e poder de fogo ao derrotar a surpresa Turquia, na semifinal (mesmo atuando pior). A estrela Ballack, o matador Klose e o meia Schweinsteiger, que joga muita bola, credenciam a seleção alemã a conquistar a taça.

Já a Espanha, que costuma decepcionar quando chega badalada aos torneios, até agora tem sido gente grande. Teve 100% de aproveitamento no Grupo D, depois eliminou a atual campeã do mundo Itália e goleou a Rússia. É verdade que teve maus momentos em algumas partidas, como na primeira etapa da semifinal, mas foi superior aos rivais quando precisou. Os espanhóis têm um conjunto organizado, mas vale destacar as ótimas atuações individuais do volante brasileiro Marcos Senna, do meia Fabregas, que inexplicavelmente é reserva, e do atacante David Villa, que machucpu-se diante dos russos.

Empurrada pelos gritos de “Super Deutschland” (Alemanha, em alemão) vindos das arquibancadas, a poderosa Alemanha vai em busca do seu terceiro título europeu para consolidar-se como a maior ganhadora da competição. Enquanto isso, a Espanha luta pelo bicampeonato (o único título aconteceu em 1964, dentro de casa) para deixar de apenas ser conhecida como “La Furia” e enfim ser promovida como uma das grandes seleções do planeta.


Foto: Alemães e espanhóis fazem a festa nas arquibancadas durante as semifinais, contra Turquia e Rússia, respectivamente

Saturday, June 21, 2008

Um fenômeno chamado Turquia

por Tiago Leme, de Zurique (SUI)

A semifinalista Turquia é a grande surpresa desta Eurocopa até agora. Com três viradas impressionantes nos últimos três jogos, os turcos levaram os seus fanáticos torcedores à loucura nos últimos dias. A mais recente vítima foi a Croácia, que foi derrotada nos pênaltis, na última sexta-feira, em Viena (AUT), após mais um milagre dos eurasiáticos.

Dentro de campo o time comandado pelo técnico Fatih Terim é aguerrido e bem organizado. Mas é fora dele o fato que tem chamado mais atenção na competição. A torcida turca tem sido a mais animada deste campeonato (talvez somente os holandeses também façam tanta festa). Nas arquibancadas, em frente aos telões das Fanzones e nas ruas de Suíça e Áustria, os fãs da Turquia não se cansam de cantar e estão pintando as cidades com camisas e bandeiras vermelha e branca.

A explicação para essa festa é a grande comunidade turca existente nas sedes da Euro, assim como acontece em diversos outros países da Europa. Mais de 100 mil turcos vivem atualmente na Suíça, em um processo que começou nos anos 60 e aumentou nos últimos anos. Em busca de trabalho e melhores condições de vida, eles deixaram a terra natal e começaram a invasão em outros países. Muitas vezes discriminados e vistos com maus olhos pelos nativos, esses imigrantes do Leste europeu dominam algumas regiões, principalmente em Zurique e Basel. "Nós merecemos mais respeito. Essa campanha é boa para mostrar ao mundo as coisas boas da Turquia", disse o comerciante Emir Akin, dono de umas das várias lanchonetes que vendem kebap, uma típica comida turca, que estão espalhadas pelas cidades.


A vitória sobre a Croácia deu a vaga na semifinal, diante da Alemanha, e já garantiu à Turquia a sua melhor campanha na história do torneio. Após sofrer um gol a um minuto do final da prorrogação, a seleção turca conseguiu o empate em 1 a 1 nos acréscimos, e a heróica classificação veio na decisão por pênaltis. Na primeira fase, a equipe estreou perdendo para Portugal, por 2 a 0, mas se recuperou. A Turquia venceu a anfitriã Suíça de virada, por 2 a 1, com um gol aos 48min do segundo tempo. A classificação para o mata-mata também foi sofrida: 3 a 2 sobre a República Tcheca, com dois gols feitos nos últimos 4 minutos da partida. “Acreditamos que podemos vencer qualquer seleção porque nunca desistimos até ao apito final”, disse o atacante turco Nihat Kahveci, tentando explicar o segredo do sucesso.

Foto: Turcos fazem a festa na Fanzone de Zurique, durante jogo com a Croácia; e também nas ruas de Genebra, antes da partida contra Portugal

Thursday, June 19, 2008

Alemanha despacha "favorito"

por Tiago Leme, de Basel (SUI)

O time que jogou melhor nesta quinta-feira venceu o que havia jogado melhor na primeira fase. No mata-mata, a Alemanha mostrou a sua força e eliminou Portugal da Eurocopa, após a vitória por 3 a 2, pelas quartas-de-final. Com boa atuação e vontade de sobra, os alemães superaram os portugueses, que tiveram uma postura mais defensiva do que o habitual e falharam nas bolas aéreas.

Primeiro colocado do Grupo A, Portugal era apontado como favorito diante do segundo lugar do Grupo B. No entanto, a seleção tricampeã mundial se impôs sobre a equipe que busca a o seu primeiro título da Euro e fez por merecer a classificação para a semifinal. O resultado antecipou a saída do técnico Luiz Felipe Scolari, que vai dirigir o Chelsea (ING), e colocou a Alemanha agora como uma séria candidata à taça.
Com mais posse de bola e mais incisivo no ataque, o time do técnico Joachim Löw abriu 2 a 0 no placar antes dos 30min. Primeiro com um gol do meia Schweinsteiger, o melhor jogador da partida, e depois com um gol de cabeça do atacante Klose. Diferentemente dos duelos anteriores, o autor do segundo gol atuou sozinho lá na frente, mas tendo a ajuda de três meias ofensivos (Podolski, Schweinsteiger e Ballack), mesmo esquema que tem sido utilizado por Portugal e Holanda.

Portugal ainda conseguiu se manter vivo em campo com um gol feito pelo atacante Nuno Gomes pouco antes do intervalo, mas a equipe não repetia o desempenho da primeira fase. A estrela Cristiano Ronaldo, que poderia ter chamado a responsabilidade para si, ficou escondido no meio dos marcadores. Deco era quem tentava levar o time à area adversária, mas foi bem marcado e errou muitos passes.

Na segunda etapa, a tentativa de reação portuguesa foi esfriada por mais um gol de cabeça alemão. Desta vez Ballack, que subiu mais do que Paulo Ferreira, que também já havia vacilado pelo alto na marcação de Klose anteriormente. No desespero, Portugal tentou alçar bolas na área, mas a eficiente defesa da Alemanha fez a sua parte. Aos 42min, Helder Postiga balançou as redes e deu uma pequena esperança para os lusos, mas o apito final não tardou e confirmou a vitória alemã.
Foto: Torcida alemã fez a festa antes e depois da partida no estádio St. Jakob-Park, em Basel

Monday, June 16, 2008

Bastidores: A facilidade de viajar

por Tiago Leme, de Viena (AUT)

Calendário de Junho
3 - Londres (ING) - Zurique (SUI)
4 - Zurique (SUI) - Basel (SUI) - Zurique (SUI)
5- Zurique (SUI) - Regensdorf (SUI) - Zurique (SUI)
6 - Zurique (SUI) - Neuchatel (SUI) - Genebra (SUI)
7 - Genebra (SUI)
8 - Genebra (SUI) - Berna (SUI) - Zurique (SUI)
9 - Zurique (SUI) - Lucerna (SUI) - Berna (SUI)
10 - Innsbruck (AUT)
11 - Zurique (SUI) - Genebra (SUI) - Zurique (SUI)
12 - Zurique - Vaduz (LIE) - Zurique (SUI)
13 - Zurique (SUI) - Vaduz (LIE) - Berna (SUI) - Zurique (SUI)
14 - Zurique (SUI) - Basel (SUI) - Zurique (SUI)
15 - Zurique (SUI) - Olten (SUI) - Basel (SUI)
16 - Viena (AUT)

Estive em 12 cidades da Europa nos últimos 14 dias, durante a cobertura da Euro-2008 (o cronograma das viagens está acima). Parti em um vôo de Londres no dia 3 de julho, quando cheguei a Zurique, e depois comecei a perambular por Suíça e Áustria. Além dos dois países-sede, também conheci Liechtenstein, um país minúsculo no meio dos anfitriões do torneio.

A facilidade de locomoção é um dos pontos positivos nesta Eurocopa. As curtas distâncias entre as cidades e o eficiente sistema ferroviário, principalmente na Suíça, fazem com que jornalistas, torcedores e todos os envolvidos na competição possam passar por tantos lugares diferentes como eu passei nas duas últimas semanas.

Uma viagem de trem de Zurique, minha base na maioria das noites, até Berna demora apenas 58 minutos (distância de 128km). De Zurique a Genebra, o tempo é de 2h43min (280km). O trajeto mais longo é de Genebra, na Suíça, até Viena, na Áustria, que dura 11h50min (1032km).
Além da pontualidade dos trens _se a partida está marcada para as 14h32 e você chega na plataforma às 14h32 e 20 segundos, você perde o trem_, o conforto dos vagões e as informações precisas são fatores a serem destacados. Os trens são equipados com restaurantes, banheiros, tomadas para laptop e camas no caso de viagens noturnas, por exemplo. Especialmente para a Euro, mais horários foram disponibilizados e quem tiver o ingresso para as partidas tem direito a viajar de trem sem pagar nada no dia do jogo.

No último domingo assisti a Portugal x Suíça, em Berna, nesta segunda-feira estou em Viena, onde vi Alemanha x Áustria, e na terça-feira estarei em Zurique para Itália x França. Daqui a seis anos, a Copa do Mundo será realizada no Brasil. Por mais que todos os investimentos necessários sejam feitos e o país funcione pelo menos durante um mês, será impossível se deslocar com tamanha facilidade como acontece na Europa. Devido às grandes distâncias e à inexistência de uma malha ferroviária no Brasil, em 2014 dependeremos do avião para acompanhar os jogos em diferentes cidades. Até lá, se Deus quiser, controladores de vôo, governo, Anac e companhias aéreas se entederão melhor.
Foto: Trem suíço e invasão de torcedores em estação ferroviária

Saturday, June 14, 2008

Mr. Scolari começa a conquistar os ingleses

por Tiago Leme, de Basel (SUI)

Na primeira entrevista coletiva após a confirmação de que será o técnico do Chelsea (ING) na próxima temporada, Luiz Felipe Scolari começou a mostrar o seu estilo aos ingleses. Brincalhão, mas impondo respeito, o treinador brasileiro teve jogo de cintura para responder as perguntas da imprensa internacional, neste sábado, em Basel, na Suíça.

Felipão abriu a conferência com uma declaração: “Gostaria de encerrar um assunto que já está encerrado, que é o meu vínculo com a federação portuguesa. Tenho contrato até o final da Euro, continuo adorando Portugal e isso não vai mudar nada. A negociação já foi concluída. O assunto está encerrado quanto ao futuro, só falo do presente”, disse Scolari, que deu uma breve explicação sobre a sua transferência. “O presidente da federação (Gilberto Madeira) procurou auxílio de patrocinadores para chegar a proposta perto da que eu recebi. Ele fez o possível e eu fiz o possível, mas tínhamos números para definir e decidimos o que será melhor para mim.”

Na sequência, foi bombardeado com perguntas de jornalistas portugueses, ingleses e brasileiros sobre a sua ida para o Chelsea e deu respostas monossilábicas. Entre outras, disse “não” quando questionado se o assunto iria afetar o desempenho de Portugal na Eurocopa, e “sim” quando perguntado se esse era o momento ideal para o anúncio. Interessados em saber sobre os planos de Felipão no clube de Londres, os jornalistas britânicos insistiram e deram um jeito de arrancar algumas respostas dele. O treinador fez brincadeiras quanto à dificuldade de falar a língua inglesa, soltou alguns “yes”, “no” e “sorry” e levou os presentes aos risos.

Sem falar sobre o que não queria, mas simpático com os repórteres, Scolari fez uma auto-definição de sua personalidade e parece ter agradado à imprensa da Inglaterra com o seu jeitão simples. “Vocês têm que perguntar à minha mulher, ela sabe melhor do que eu. Mas eu sou isso que vocês estão vendo aqui, sou brincalhão e faço um bom ambiente com os meus atletas, o que é o mais importante. Vivo bem em qualquer lugar, sou tímido, não gosto de festas.”

Mesmo não citando o nome do Chelsea nem sequer uma vez durante os 30 minutos da entrevista, o assunto sobre a mudança de equipe conduziu a coletiva, deixando de lado a partida deste domingo, na qual o já classificado Portugal enfrenta a eliminada Suíça.

Foto: Felipão deu entrevista coletiva, neste sábado, em Basel

Friday, June 13, 2008

Opinião: Holanda e Portugal decidirão o título

por Tiago Leme, de Berna (SUI)

Se nada de imprevisível acontecer, a final da Euro-2008 será entre Holanda e Portugal. A afirmação é arriscada tratando-se de futebol, mas as duas equipes são as mais bem armadas e as que tiveram as melhores atuações até agora. Nenhuma outra seleção do torneio tem meias armadores como o holandês Sneijder e o português Deco. São esses cérebros que estão fazendo a diferença quando é preciso. Sem esquecer, claro, das estrelas Van Nistelrooy e Cristiano Ronaldo.

Nesta sexta-feira, a Holanda deu mais um show de bola diante de um campeão mundial. Depois de massacrar a Itália, agora foi a vez de golear a França, por 4 a 1, no Stade de Suisse Wankdorf, em Berna. Outra vitória com autoridade, que mostrou uma equipe consistente na defesa e no ataque, e com qualidade para chegar ao título. Foi fundamental o dedo do técnico Van Basten, que mostrou coragem ao tirar o volante Engellar e colocar o atacante Van Persie no intervalo, quando a Laranja já vencia por 1 a 0. O meia Sneijder, do Real Madrid, foi bem e fez um golaço no final.

Portugal também fez por merecer o rótulo de favorito ao bater a República Tcheca, por 3 a 1, na última quarta-feira, em Genebra. A seleção comandada por Felipão melhorou em relação ao primeiro jogo e ganhou com certa facilidade dos tchecos. O conjunto português talvez não tenha brilhado tanto quanto o holandês, mas Felipão pode fazer a diferença. Os jogadores não se cansam de elogiar o trabalho do treinador brasileiro, que tem um grupo unido em mãos. O meia Deco, do Barcelona _mas que deve ir para Chelsea ou Inter de Milão_, fez o primeiro gol, deu o passe para o segundo e participou da jogada do terceiro.

Na fase de mata-mata nem sempre o melhor ganha. Por isso, Alemanha, Espanha, França ou Itália _essas duas últimas que podem nem sequer passar da primeira fase_ podem sonhar. Mas holandeses ou portugueses têm tudo para fazerem a festa em Viena, no dia 29 de junho.

Foto: Holandeses comemoram o quarto gol diante da França, feito por Sneijder; enquanto portugueses marcam o segundo gol diante da República Tcheca, feito por Cristiano Ronaldo após passe de Deco